Polícia Civil prende bando por roubo de caminhões e sequestro de motoristas
A Polícia Civil, prendeu, nesta quinta-feira (5), seis homens que roubaram três caminhões e mantiveram os três motoristas em cárcere privado em um imóvel localizado no Vale do Igapó, em Bauru. Os criminosos também fizeram contato com a família de uma das vítimas pedindo R$ 15 mil para liberar o caminhoneiro, mas o valor não chegou a ser pago.
Outros dois integrantes da quadrilha foram presos horas depois no município de Sertaneja (PR). Eles estavam com um dos caminhões, que apresentou problemas mecânicos e foi levado a uma oficina. Por meio do rastreador, o veículo e a dupla foram localizados.
A suspeita é de que o bando já tenha agido em outras cidades do Estado, como Campinas e Santos, onde ocorreram crimes com o mesmo modo de operação. Em Bauru, contudo, esta foi a primeira vez que um caso desta natureza foi registrado, segundo informou o delegado Cledson Nascimento, titular da Delegacia de Investigações Gerais (DIG) da Deic.
De acordo com ele, o objetivo da quadrilha era vender os caminhões, que possuem valor estimado entre R$ 140 mil e R$ 220 mil, na fronteira entre o Mato Grosso do Sul e o Paraguai. Dos dois veículos que ainda não foram localizados, um não possuía rastreador e outro teve o equipamento retirado e abandonado em Ponta Porã (MS).
Nascimento explica que as investigações começaram às 19h de quarta-feira, quando o Tático Integrado de Grupos de Repressão Especial (Tigre), da Polícia Civil do Paraná, entrou em contato com a DIG de Bauru. "Os familiares de um caminhoneiro de Terra Boa (PR) havia relatado que este parente estava desaparecido. Ele tinha feito um frete para Ourinhos e disse para a esposa que, por meio de um aplicativo de frete, tinha encontrado um serviço para transportar um nova carga de Bauru até o Paraná", detalha Nascimento.
Só que os contratantes eram, na verdade, dois integrantes do grupo criminoso, que usou o nome de uma empresa idônea, sem relação com o crime, para atrair as vítimas. Elas foram até o Distrito Industrial 2 e, uma a uma, em horários distintos, foram rendidas e levadas até o cativeiro no Vale do Igapó.
Um caminhoneiro de Bebedouro foi abordado na manhã de quarta-feira e o de Terra Boa e um de Astorga (PR) na tarde do mesmo dia. Os dois primeiros foram liberados pelos criminosos por volta das 22h de quarta entre Agudos e Bauru, provavelmente depois que os respectivos caminhões já tinham entrado no Paraguai.
INVESTIGAÇÃO
Em uma estrada vicinal, eles tentaram chamar a atenção dos motoristas que passavam pelo local e um dos condutores, apesar de não ter parado, acionou a polícia. A esta altura, a DIG de Bauru já havia sido informada sobre o desaparecimento de um deles.
"Na manhã de hoje (quinta), ouvimos os dois e eles relataram que, depois de abordados, chegaram a uma chácara cerca de quatro minutos depois, o que levantou a suspeita de que poderia ser o Vale do Igapó", comenta o delegado. Por meio de imagens de câmeras de segurança, dois veículos suspeitos foram identificados. Durante as buscas no local, um destes veículos foi avistado e o condutor, abordado, prestou informações desencontradas e foi detido. Em seguida, as equipes da DIG conseguiram localizar o imóvel onde estava o restante do bando.
INCURSÃO
Os policiais fizeram disparos de alerta ao entrar no imóvel e renderam o bando. Em um dos quartos, o terceiro caminhoneiro, de Astorga (PR), foi localizado escondido embaixo da cama.
No local, as equipes apreenderam dois revólveres calibre 38, munições, coletes refletivos, uma touca ninja, um Fiesta hatch e um Fiesta sedan, além de outros objetos, incluindo as alianças de ouro de dois caminhoneiros.
Os integrantes presos em Bauru foram identificados como L.C.M.S. (só as iniciais foram divulgadas), 33 anos; F.P.C, 26 anos; I.P.F., 20 anos; R.B.A., 41 anos; L.A.C., 39 anos; e J.G.M., 33 anos. Eles são oriundos de Campinas e Taboão da Serra e responderão pelos crimes de roubo, sequestro, porte ilegal de arma e organização criminosa. Todos tinham antecedentes criminais.
Caminhoneiros relatam momentos de tensão vividos dentro do cativeiro
Os três caminhoneiros que foram alvo da quadrilha conversaram com o Jornal da Cidade e relataram que os criminosos não foram violentos, mas os ameaçavam o tempo todo, se não obedecessem às ordens do bando. Ainda de acordo com as vítimas, os integrantes chamavam uns aos outros por números - de 01 a 06 -, mas apenas um deles escondia o rosto com uma touca ao entrar nos quartos onde estavam os reféns.
"Eles vinham falar com a gente com a arma na mão e pediam para a gente colaborar. Deram comida e água. Foi difícil passar a noite. Eu só consegui cochilar", conta um dos caminhoneiros. Já o motorista de Astorga, que ainda estava no cativeiro quando a polícia chegou, foi o que viveu os momentos mais tensos.
"Quando ouvi a movimentação lá fora, eles falaram 'perdemos, perdemos' e ficaram desesperados. Aí ouvi tiros e fiquei com muito medo. Entrei embaixo da cama para me proteger. A adrenalina foi lá no alto", relembra.
No quarto da casa, os policiais encontraram o caminhoneiro que vinha sendo mantido refém. Ele estava desaparecido desde quarta-feira (4) e a família, que mora no Paraná, procurou a delegacia local para registrar a ocorrência.
Ainda segundo a polícia, a quadrilha costumava abordar as vítimas se passando por funcionários de uma empresa de cargas. Após roubar os caminhões, a quadrilha levava os motoristas para o cativeiro.
Além dele, outros dois motoristas que foram sequestrados pela mesma quadrilha foram deixados na quarta-feira à noite em uma estrada entre Bauru e Agudos.
Segundo o delegado Clédson Nascimento, os motorista disseram que aceitaram o contrato de uma carga por aplicativo. Porém, quando chegaram a Bauru, pediram para parar na rua perto da empresa, e só quando foram abordados descobriram que era um golpe.
Na casa, a policia apreendeu dois carros com placas de Campinas e Piracicaba, duas armas, munições e coletes, possivelmente usados pelos criminosos durante as abordagens.
De acordo com as investigações, a intenção da quadrilha era vender os caminhões na fronteira com o Paraguai.
Um dos veículos roubados foi localizado pela polícia em uma oficina no interior do estado do Paraná. Mais duas pessoas foram presas no local, suspeitas de envolvimento com a quadrilha.
O delegado responsável pela investigação não descarta que os criminosos estivessem agindo em outras regiões de São Paulo.
RISCOS BRASIL
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